Novos Sertões: Luz solar é fonte de energia limpa para irrigação no Vale do Jaguaribe

6 de setembro de 2016 - 13:53

Novos Sertões: o Semiárido contado por sua gente

Reportagem: Bruno Andrade
Fotos: Tuno Vieira
Arte: Elane Lima

Com apoio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), através do Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (FEDAF), fonte alternativa de energia, obtida a partir de placas solares, tem ganhado notória visibilidade e é a grande aposta para irrigação 

A relação do agricultor cearense com o sol tem ficado estreita nesses últimos anos. Enfrentando o quinto ano consecutivo de estiagem é perceptível que esse laço entre o agricultor cearense e o imperador do sertão (Sol) tem cada vez mais se afunilado. Mas com uma gestão que preza pela eficiência e com técnicas aprimoradas, o que antes era um problema hoje é a solução.

Com um olhar de quem muito conhece o meio rural e que teve sua esperança renovada, o produtor Francisco José de Sousa Lima, 38 anos, conhecido popularmente pelo apelido de Zé de Diquinha, no município de Quixeré, distante a 218 quilômetros de distância da capital Fortaleza, no Vale do Jaguaribe, escreve uma nova história para o homem do campo, pois viu nas placas solares a possibilidade de fortalecer o cultivo dos seus produtos e melhorar a qualidade de vida da sua família.

A propriedade situada no Baixo Jaguaribe contém uma área de 10 hectares plantada de acerola, mamão e banana, o que é muito para uma região castigada pela ausência d’água. A produção já é referência nacional, sendo destaque em publicações do Governo Federal. Isso é fruto do empenho e iniciativa do produtor, mas também de um forte trabalho da SDA para captar recursos que foram investidos na aquisição desse material. A iniciativa do agricultor ao buscar empreender no setor agrícola tem garantido-lhe bons resultados. Com a instalação desse sistema foi possível não somente comercializar os produtos, mas também lhe garantiu uma estabilidade na linha de produção. A tecnologia permitiu que o agricultor produzisse mensalmente 20 caixas de acerola e 60 caixas de mamão, produção essa que dava um lucro mensal de R$ 900 a R$ 1000 reais.

Hoje, ao passar pela estrada de terra batida vemos um cenário diferente daquele de antes, a típica vegetação da caatinga com sua coloração “acinzentada e morta” deu lugar ao verde que simboliza a esperança, pois ao mirarmos no sentido da casa do agricultor Francisco o que visualizamos é uma plantação que assemelha-se as grandes fazendas no sul e Centro-Oeste  do país com um verde que é de “limpar a vista” de qualquer um que passa por ali.

Esse resultado garante não somente a irrigação, mas também permite uma redução nas contas. “Buscamos diversas formas de ser beneficiados com esse tipo de tecnologia, porque é uma grande ajuda para diminuir no consumo da energia e consequentemente deixa a gente com um dinheiro sobrando para ser investido em outra coisa”, fala com entusiasmo o produtor. Com uma economia de até R$ 300,00 por mês, o que representa uma redução de 40% no valor da conta, o produtor cria novas expectativas e idealiza novos projetos.

Contornando os obstáculos


A dificuldade em garantir água para irrigação tem sido um dos maiores problemas enfrentados por aqueles que tiram o sustento da agricultura. Com isso o Governo do Ceará, por meio da SDA, tem investido e acreditado em projetos que busquem alternativas para o setor agrícola. Através de recursos do FEDAF foram adquiridas e instaladas 20 placas solares no valor de R$ 68 mil. As placas utilizadas na irrigação das culturas de mamão, banana pacovan e acerola produzem em média de 800 a 900Kw/h. 


“Me sinto orgulhoso por estar sendo privilegiado com essa ajuda do Estado. Estou sendo o primeiro no Brasil que utiliza energia solar e com essa tecnologia de transformação da energia solar em energia elétrica vai ajudar não só a mim, mas a todos meus familiares”, comenta o agricultor.

Placas solares


A capacidade de armazenamento energético é de 250 Watt-pico (uma medida de potência energética, normalmente associada com células fotovoltaicas) por cada placa fotovoltaica. A produção depende entre outras da quantidade de placas. A energia que é captada pelas placas converte a luz solar em energia elétrica que posteriormente é utilizada para ativar a máquina que faz o bombeamento d’água na irrigação das áreas plantadas pelo agricultor.


“A utilização das placas solares possibilita ao agricultor uma nova perspectiva. A redução na conta da energia é apenas um dos resultados que obtemos, mas a principal idea do projeto é capacitar os agricultores para novas formas de aproveitar o que a natureza nos proporciona e utilizarmos em benefício próprio”, comenta o engenheiro e responsável pela instalação das placas solares, Laércio Peixoto do Amaral.