Título da terra leva esperança para Irauçuba

24 de maio de 2017 - 23:07

Em menos de dois anos, a cidade localizada a 140 km da capital Fortaleza já recebeu 155 documentos da terra do Governo do Estado do Ceará. Também pensando em retirar Irauçuba do mapa da extrema pobreza, a SDA desenvolve o Projeto Paulo Freire em 23 comunidades do município

“Sou filho natural do Aracati. Aí quando a gente cresce começa a andar”. A travessia de Manuel Madeira Barros, de 71 anos, foi até São Paulo. Os dois empregos nas metalúrgicas Macisa e Bert, nos idos de 1970, acrescentaram ao sertanejo a participação na greve histórica da categoria e assistir aos primeiros discursos de Lula em plena ascensão política. Casou-se também com uma paraibana e, já sem oportunidade, a boca da necessidade o forçou a retornar ao Ceará em 1981. 

A vida lhe deu cinco filhos já grandes e adotou Damião, hoje com 16 anos. “Meu pai, quando crescer, vou procurar um serviço melhor. Rapaz, agricultura é bom. Mas ido os inverno, quem não tem muita coragem desanima. Se não achar algo melhor, ele retorna”, relata o diálogo com caçula da família. Para receber o papel de terra, foi do Coité até Barreira, comunidades do município Irauçuba, na garupa da moto com o chapéu que teima na cabeça. É a primeira vez que se vê proprietário de alguma coisa.

“Só do terreno ficar no nome da gente, a gente sabe que é nosso mesmo”, solta o agricultor cônscio de que, para fé pública, o documento ainda precisa ser lavrado em cartório. O mesmo papel timbrado, trazendo a logo do Governo do Estado do Ceará, também atendeu “um cunhado meu, vizinho a mim” no ano passado. Em 2016, foram entregues 120 títulos de terra e, com a leva de mais 35 de agora, aumentou a expectativa e o cochicho nas localidades. “Vocês merecem há muito tempo esse título”, reconhece a superintendente adjunta do Idace, Graça Pedrosa, de mão espalmada.

O órgão vinculado à Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) já entregou mais de 2.210 papéis desse tipo de janeiro pra cá. Os técnicos levam em consideração um levantamento histórico do terreno e da família, além de realizarem o georeferenciamento: indicando em coordenadas a localização exata do sítio e os pontos que marcam cada canto da cercania. “Aqueles que ainda não receberam nos procurem”, vaticina a promessa do governador Camilo Santana de levar essa conquista a todos cearenses.

O danado é que “o papel da terra são as conquistas sociais que vem com ele”, explica o secretário da SDA, Dedé Teixeira. Além da segurança de que a partir daí ninguém mexe no que é seu, o agricultor familiar pode procurar o Banco do Nordeste para contratar um empréstimo para comprar o maquinário ou expandir a produção no terreno. O “grande projeto” de entregar o documento a quem vive e precisa da terra muda a dinâmica de enxergar na propriedade um meio de sobreviver e transforma dezenas de milhares delas em pequenos módulos que alimentam as economias locais.

Educação para soberania

Também pensando nisso, o próprio Governo do Estado do Ceará investe e contraiu um empréstimo da ordem de 80 milhões de dólares junto ao Fundo Internacional de Desenvolvimento da Agricultura (FIDA). É o Projeto Paulo Freire. O programa com nome do educador popular mapeou os 31 municípios cearenses mais pobres, incluindo Irauçuba. O baixo IDH também foi levado em consideração no mapeamento das 600 comunidades dessas cidades em piores condições.

“23 comunidades daqui foram escolhidas por um comitê envolvendo técnicos, a Prefeitura, os sindicatos, as associações, as organizações sociais e as igrejas”, conta o secretário. “Essas comunidades vão receber cursos, seminários e capacitações envolvendo mulheres e jovens que terão a meta de construir um plano de investimento com o que há de melhor desenvolvido por vocês. Naquela comunidade que escolher o bode (caprinocultura), vamos inclusive pra fora comprar as matrizes. Se for bordado, vai ser o bordado. E por aí vai. Vamos investir nas pessoas e nas suas capacidades”, narra.

Somente na região de Sobral são 16 municípios atendidos com mais de R$ 100 milhões e o apoio do Centro de Apoio ao Trabalhador Rural (Cetra). “É dinheiro que besta não conta, não”, frisa Dedé. E um técnico para cada duas comunidades “para toda semana estar perto e ir orientando”. “Eu acredito que esse projeto (Paulo Freire) vai mudar cada uma das 23 comunidades daqui e tirar Irauçuba de vez da lista dos municípios mais pobres. Essa é nossa meta”, finaliza para uma plateia de agricultores familiares, crianças, líderes comunitários, técnicos e políticas na Escola Estadual de Ensino Fundamental João Ferreira.

Assessoria de Comunicação da SDA

André Gurjão – andre.gurjao@sda.ce.gov.br
Marina Filgueiras – marina.filgueiras@sda.ce.gov.br
Bruno Martins – bruno.andrade@sda.ce.gov.br