Juventudes do Semiárido reivindicam acesso à terra e cotas específicas nas universidades estaduais

28 de janeiro de 2019 - 09:11 # # # #

ASCOM André Gurjão andre.gurjao@sda.ce.gov.br | Erivelton Celedônio erivelton.celedonio@sda.ce.gov.br

O Festival das Juventudes do Semiárido no Território dos Inhamuns chegou ao fim no último sábado (26) com uma enorme ciranda. De mãos dadas, no auditório do Centro de educação, Ciência e Tecnologia da Região dos Inhamuns (Cecitec), cerca de 200 jovens aprovaram a Carta das Juventudes dos Inhamuns e celebraram as conquistas garantidas por meio de políticas públicas “que contribuíram para a melhor forma de conviver no semiárido, especialmente aquelas que foram implantadas no nosso Estado, como a assessoria técnica contínua do Projeto Paulo Freire”, cita o documento aprovado em plenária.

Através da carta, os jovens homens e mulheres do campo, entre 15 e 29 anos, ainda reivindicam uma educação contextualizada que dialogue com a realidade local, cotas específicas nas universidades estaduais destinadas aos filhos de agricultores rurais e avançar no debate e promoção da agroecologia. Além desses tópicos, o jovens citam a ampliação as políticas de acesso à terra, à água e às sementes; a visibilidade das políticas afirmativas voltadas a mulheres, quilombolas, indígenas e LFBTQ+; e a construção de espaço de lazer valorização da arte e cultura local.

“Somos a juventude que pulsa no coração do semiárido, que brilha com o Sol, que colore a região com as diferentes formas de amor, que luta somando força com as nossas mulheres, que traz a negritude para dar mais cor as nossas lutas, que resiste com a ancestralidade da cultura indígena na luta pela terra”, afirmam os jovens. “Nós temos sede, não apenas de água, mas de políticas públicas que reafirmem a nossa existência e garantam a nossa qualidade de vida no campo. Também temos fome! Fome de existir e realizar nossos sonhos, de termos oportunidades, justiça e igualdade, respeitando os diversos sujeitos”.

“Esses são os anseios e desejos de jovens que deixaram suas casas e vieram viver esse terceiro festival (o primeiro e o segundo aconteceram em Ipueiras e Sobral, respectivamente). A sucessão rural é necessária, o respeito é fundamental e seguir lutando, sonhando e conquistando é essencial”, continua. “Seguiremos no campo, nas escolas, nas associações, nos grupos, nas ruas e em tantos outros espaços, ecoando que temos fome e sede e que esse País é nosso e que precisa garantir e preservar os direitos conquistados com dificuldades e muita luta. Ninguém solta a mão de ninguém! A Juventude quer viver!”.

Os festivais

O terceiro Festival das Juventudes dos Inhamuns, ocorrido entre 24 e 26 de janeiro em Tauá, é uma das etapas preparatórias para o encontro estadual de jovens agricultores que deve acontecer ainda neste ano. O evento é promovido pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), através do Projeto Paulo Freire, conta com o apoio do Instituto Agropolos do Ceará (IACe) e foi realizado em parceria com a Cáritas Diocesana de Crateús e com o Centro de Pesquisa e Assessoria Esplar.

O projeto e o festival são financiados com recursos de um acordo de empréstimo envolvendo o Governo do Ceará Fundo Internacional de Desenvolvimento da Agricultura (FIDA), que visam fomentar o debate e o empoderamento com a finalidade de superar a extrema pobreza rural em 600 comunidades rurais localizadas em 31 municípios cearenses nos territórios dos Sertões de Crateús, Inhamuns, Sobral, Litoral Oeste/ Vale do Curu e Arcatiaçu, Cariri e Serra da Ibiapaba.

“Mais do que uma satisfação e uma alegria, ficamos extremamente emocionados ao ouvir o testemunho desses jovens. Desde que fizemos esse convite, tínhamos muito medo. Será que eles serão protagonistas desse espaço? E toda vida que vocês nos viam, vocês estavam muito animados”, testemunha a representante da Cáritas de Crateús, Daniela Cavalcante. “Hoje, estamos encerrando um ciclo de três dias, que é só um nome, porque desde quando vocês fazem parte dessas ações, vocês já fazem parte dessa linguagem e integram essa luta”.

“Esse festival foi um momento muito feliz para todos nós. Vivemos um processo onde vocês asseguraram um dos seus próprios direitos, que é o direito à Comunicação, garantido pelo Estatuto das Juventudes. Todo nosso esforço valeu à pena e tenho certeza que todos vocês, que estão voltando às comunidades, irão recomeçar, ou até mesmo iniciar, um trabalho envolvendo jovens no local onde vivem”, confia a representante do Esplar, Silvana Holanda.

Novos conhecimentos

Mesmo sendo professora de Biologia, a jovem professora Larisse Roberto Rufino, do município de Parambu, não conhecia a experiência de Bioágua. “Quando eu vi o nome ´bioágua´, já fiquei curiosa porque nunca tinha ouvido falar. Então, o que aprendi na teoria da faculdade eu vi eles fazendo lá: que é reutilizar a água do banho, da lavagem das roupas e das louças (para produção de alimentos)”.

“Eu fiquei apaixonada e acredito que se houver um financiamento, porque nem todo mundo poderia fazer do próprio bolso, com certeza daria para implantado lá (na comunidade de Riacho Verde)”, relata a experiência compartilhada durante intercâmbio no Festival dos Inhamuns.

 

(Fotos: Marcos Vieira)