Mulheres do Semiárido: A vida e a experiência agroecológica de D. Hosana
8 de março de 2019 - 11:51 #8 de Março #Dia Internacional da Mulher #Mulheres do Semiárido #Paulo Freire
Ascom |
Texto André Gurjão - andre.gurjao@sda.ce.gov.br | João Caetano e Karina Ikeda Manjari
Fotografia: João Caetano e Karina Ikeda Manjari (Instituto Antônio Conselheiro)
A casinha de alvenaria caiada em tons de amarelo na comunidade Lameiros, município de Pires Ferreira, é a moradia de D. Hosana Ferreira Gomes, de 46 anos. A agricultora familiar e mãe de sete filhos trabalha desde a infância na roça para ajudar a família a ganhar o sustento e, logo aos 14 anos, veio o primeiro filho. “Todos os dias estou na plantação. Até em dia de domingo eu venho ver como tá as plantas. Enquanto tiver coragem de trabalhar, eu tô aqui”, narra a Vida Severina de quem carrega a enxada como uma extensão do próprio corpo.
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Entre os caminhos e as veredas do semiárido cearense, D. Hosana representa uma das 23.570 famílias atendidas pelo Projeto Paulo Freire (PPF). A ação desenvolvida pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), em parceria com as entidades prestadoras de Assistência Técnica Contínua (ATCs), busca o combater a extrema pobreza em 600 comunidades rurais cearenses espalhadas em 31 municípios do Estado. “A agricultura é tudo pra mim. A minha maior alegria é ver isso tudo plantado”, sintetiza o dia a dia na roça.
“As beneficiárias do Projeto Paulo Freire representam a resiliência da mulher nordestina. Não apenas porque são levadas a dividirem as tarefas de casa com o trabalho no roçado, como também: pelo papel desempenhado de resistirem às intempéries do clima semiárido e de persistirem num ambiente dominado, socialmente e economicamente, por relações machistas que ainda predominam no espaço do campo”, comenta o secretário do Desenvolvimento Agrário, De Assis Diniz.
Fé e entusiasmo
Desde outubro de 2017, a agricultora familiar que sempre se recusou utilizar inseticida, o “veneno” nas palavras de quem reconhece o seu próprio valor e riqueza através das experiências com as plantas, é atendida com a assistência técnica executada por meio dos técnicos do Instituto Antônio Conselheiro (IAC). Segundo relata, ela recebeu com surpresa a proposta de participar do projeto e carrega consigo a fé de que o projeto produtivo, voltado para a atividade da Avicultura, vai gerar mais renda e ajudar a realização dos sonhos dos próprios filhos.
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“A D. Hosana representa um bom quantitativo de mulheres que acompanhamos na mesma situação pelo Projeto Paulo Freire. São mulheres vulneráveis, fragilizadas por estarem excluídas e porque seguem um sistema contrário do que a maioria da comunidade segue e do que a mídia prega. É sempre difícil uma pessoa com pouco estudo e informação se fortalecer ali sozinha, ainda mais quando se vive no interior do Estado”, observa a assessora do Eixo Social do IAC, Karina Ikeda Manjari.
No caso de D. Hosana, que já conta com um plantio em nível de feijão, maxixe, milho e melancia, além da criação de cabras e de uma cisterna de placa, o quintal produtivo se tornará ainda mais fortalecido com a chegada de 50 pintos fornecidos pelo projeto. “Com a chegada do Paulo Freire, mudaram a rotina de muitas comunidades rurais: tanto pelo processo das feiras agroecológicas, que são momentos de encontros entre as comunidades e de geração de renda; quanto pelas oficinas de gênero e de capacitação, que buscam autonomia e uma melhor na qualidade da produção”, conclui Manjari.
Mulheres do semiárido
Durante todo o mês de março, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário divulga matérias tratando das condições de vida das mulheres do campo e da melhoria de vida proporcionada pelo Projeto Paulo Freire. Para além do destaque especial para “Mulheres do Campo”, toda semana, sempre às quartas e sextas-feiras, a Secretaria, em parceria com as entidades prestadoras de Assistência Técnica Contínua (ATCs), promovem a campanha “Mulheres do Semiárido: Semeando Direitos em Primeiro Lugar” com a divulgação das reportagens.
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A campanha é uma continuidade de uma exposição fotográfica, realizada no mesmo período do ano passado, e carrega o objetivo de traçar uma linha cronológica entre o período anterior ao projeto e os sonhos de dezenas de milhares de mulheres do semiárido cearense. Para além do Instituto Antônio Conselheiro (IAC), as ATCs que também colaboram com campanha são: Cáritas Diocesana de Cratéus, Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria ao Trabalhador (Cetra), Centro de Estudos e Assistência às Lutas do Trabalhador Rural (Cealtru), Centro de Pesquisa e Assessoria Esplar, Instituto Flor do Piqui e ONG Cactus.