Rota do Mel: Apicultores de Crateús, Inhamuns e Sertão Central dão o pontapé inicial com oficina

16 de abril de 2019 - 13:08

Ascom | André Gurjão - andre.gurjao81@gmail.com

Nesta segunda-feira (15), cerca de 100 apicultores e apicultoras das regiões de Crateús, Inhamuns e Sertão Central estiveram reunidos no campus do IFCE em Crateús para lançar a Rota do Mel. O grupo de produtores, responsáveis por uma produção de mais de 400 toneladas de mel por ano, definiram os membros de um grupo gestor territorial, composto por diversas parceiros e entidades; delimitaram o raio de atuação em 19 municípios e desenharam o plano de ação territorial, identificando as próprias potencialidades e as ameaças ao desenvolvimento da atividade apícola.

A iniciativa nasceu a partir da Oficina de Planejamento da Rota do Mel, uma realização do Governo do Ceará, através da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), e do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), com o apoio do Banco do Nordeste, Sebrae e Codesvaf. “Hoje, temos alguns desafios. Um deles é construir um diálogo com produtores para que o mel não seja uma atividade produtiva complementar e, sim, uma atividade de cadeia”, discursou o secretário De Assis Diniz durante a abertura no auditório do campus do IFCE em Crateús.

  

“O mel não pode ser visto apenas como remédio. Este paradoxo cultural precisa dialogar com a capacidade deste produto em estar inserido na merenda escolar. Quando realizarmos isso, estaremos agregando valor e dando sustentabilidade à atividade apícola”, defendeu. De acordo com ele, não apenas o setor, como toda visão a cerca da agricultura familiar precisa atravessar uma reformulação. “Vou repetir aqui aquilo que para nós, da SDA, funciona como um mantra: não podemos compreender a atividade da agricultura familiar como uma política assistencial”.

“O nosso produtor rural precisa entender que a apicultura é uma atividade econômica: para agregar valor, elaborar e ter uma planilha de custos, dos rendimentos, do capital de giro e do retorno que a atividade agrícola deve produzir. Se isso não for compreendido, estaremos realizando investimento atrás de investimento até que a agricultura familiar se torne uma atividade esvaziada no âmbito do associativismo. Para evitarmos este triste fim, precisamos buscar a profissionalização e investirmos em tecnologia”, concluiu o secretário do Desenvolvimento Agrário.

Também participaram da mesa de abertura da primeira Oficina da Rota do Mel: Samuel Castro, coordenador da Rota do Mel, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR); Antônio Amorim, presidente da Ematerce; Paulo Dídimo, pelo Banco do Nordeste; e Paulo Jorge, representando o Sebrae. Além destes, Janaína Mourão, secretária municipal de Negócios Rurais; o diretor do campus do IFCE de Crateús, Agloaudo Junior; Romulado Ramos, representando a Codevasf; e Roberto Cariri, pelo Comdetec.

Abençoada por natureza

Com 16 casas de mel espalhadas e dois entrepostos pela região, apenas através do Projeto São José III, os territórios dos Inhamus e Crateús são privilegiados em relação às demais regiões do Estado. Prova disso é que, hoje, numa das regiões mais secas do Estado, entre 1.500 e 2.000 produtores desenvolvem a apicultura. Muito disso se deve à diversidade de espécies de abelhas e da conservação da mata nativa da região, embora também encontre respaldo nos investimentos realizados pela SDA, da ordem de mais de R$ 8,570 milhões, e na proximidade com pólos exportadores do produto.

“Essas grande variedade do pasto apícola que existe nessa região, tanto na região de Crateús quanto dos Inhamuns e Sertão Central, com uma grande diversidade de abelhas nos favorece. Nós temos, apenas aqui nessa região, a Aroeira com sua florada na época de agosto com um mel totalmente diversificado que já gera uma grande procura dos mercados do Sul e do Sudeste. Então, podemos compreender que é uma região riquíssima, tanto para o mel, para o própolis, para geleia ou para cera”, comenta o representante da Federação dos Apicultores do Ceará, Irineu Fonseca.

“O próximo passo, agora, é o desenvolvimento regional, onde vamos fortalecer a Rota do Mel nos municípios e levar o que foi apresentado aqui para que todos os apicultores tenham conhecimento e estarmos falando a mesma língua. Depois desse nivelamento, a tendência é que partamos para níveis mais específicos e grandes: temos capacidade de atrair grandes empresas apícolas, instituições educacionais elaborarem grandes projetos e, assim, poderemos construir uma grande rota do mel”, reforça o representante da Face.

Primeiros desafios

Já as principais dificuldades do setor passam pela baixa organização dos apicultores. Enquanto os empresários se mostram muito bem organizados, os pequenos produtores ainda sofrem com uma concorrência desleal promovida por eles próprios. Somam-se a isto, as dificuldades encontradas no armazenamento do mel, a ausência de políticas públicas que assegurem um preço mínimo de mercado e o baixo valor agregado do produto: que em grande parte é vendido no estado mais bruto, “no balde”, não recebendo qualquer certificação, selo ou fracionamento.

Para o apicultor e consultor do Idef, Aldy Torres, de 36 anos, alguns dos principais entraves da produção apícola das regiões de Crateús e Inhamuns são a falta de um acompanhamento permanente da assistência técnica e as ainda poucas alternativas de comercialização. “(Outra fraqueza) É que por desinteresse ou falta de conhecimento não diversifica a produção com apóxina, própolis, geleia real ou abelhas rainhas. Por exemplo, um produtor vizinho nosso, em Mombaça hoje lucra mais com a produção de enxame do que o próprio mel”, cita.

“(Além disso) Os preços de insumos têm crescido muito e, na contramão, o valor do mel não tem acompanhado. A colmeia, que chegou a custar R$ 140, agora sai a R$ 240 para o produtor; enquanto o balde de mel, que chegou a ser vendido para o mercado por R$ 220, hoje está sendo comercializado por R$ 140. E a gente acredita que, para fortalecer, precisava acontecer uma ampliação do mercado interno através das compras governamentais, PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) ou pelo PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar”, observa Aldy.