Rota do Leite: produtores buscam se tornar referência no semiárido nordestino

22 de abril de 2019 - 00:22

Ascom | André Gurjão - andre.gurjao81@gmail.com

A Rota do Leite, programa do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), o Banco do Nordeste e o Sebrae, já começa grande. Com a participação de pequenos produtores de leite bovino e caprino de 16 municípios, a proposta foi debatida no município de Quixeramobim na última quarta-feira (17). Quando estiver funcionando a pleno vapor, o grupo se propõe a brigar para se tornar referência no semiárido brasileiro e alçar melhores ofertas de preços, se preciso for, até mesmo em outros estados.

“O Sertão Central é uma região extremamente importante e a principal bacia leiteira do Estado e o município de Quixeramobim tem dado um exemplo para todo o Ceará”, saudou o secretário executivo da Pesca da SDA, Antônio Nei, durante a abertura do evento na Fatec. “O Governo do Ceará, através do governador Camilo Santana e o secretário De Assis, estão completamente imbuídos de valorizar esse projeto e vamos trazer propostas inovadoras e sustentáveis para que possamos promover essa atividade a altura de todos vocês”.

A iniciativa é pioneira aqui no Nordeste e busca um arranjo produtivo que convença o mercado interno e externo do potencial dos produtores das regiões do Sertão Central e do Vale do Jaguaribe. Com a previsão de criação de uma segunda Rota do Leite no Estado, os cerca de 160 participantes da oficina enxergam como oportunidades de crescimento a disponibilidade de crédito, o avanço tecnológico e o uso de energias renováveis e a existência de cursos técnicos, de nível médio e superior, para formação dos jovens no campo.

Pelos cálculos do Governo do Ceará, mais de R$ 13,5 milhões foram investidos na principal atividade produtiva da região do Sertão Central através dos projetos São José e em parcerias com o governo federal. “Hoje, o Estado do Ceará é o segundo maior produtor de leite do Nordeste. Pensando nisso, o Governo do Ceará já implantou 225 tanques de resfriamento do leite bovino e caprino em diversas regiões e só aqui, no Sertão Central, temos 65 tanques instalados”, pontua o coordenador das Cadeias Produtivas da Pecuária, Márcio Peixoto.

“Além disso, entregamos (pelo Hora de Plantar) 225 toneladas de sementes de sorgo e 8 milhões de raquetes de palma forrageira em todo Estado, sendo 1 milhão de raquetes somente no Sertão Central. É importante entender que não é só investir no melhoramento genético, mas também em alimentação e sanidade animal para dar sustentabilidade a esse setor”, acrescentou ao destacar que, através do projeto Rota do Leite, fica estabelecido um comitê gestor responsável pela organização e superação dos gargalos da produção e comercialização.

Rotas da Integração

“A Rota do Leite é uma coordenação de atores públicos e setoriais com a qual conseguimos traçar objetivos comuns. O nosso foco é fazer com que as instituições consigam cooperar e haja uma complementariedade das ações em torno do setor lácteo”, esclarece Joaquim Carneiro. Atualmente, explica o coordenador de Projetos Integrados do MDR, o projeto já se encontra em operação nos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul e em dois polos no Rio Grande do Sul e em fase de elaboração nos estados de Santa Catarina e Minas Gerais.

“(Através do programa Rotas da Integração) Estamos em fase de implementação de sete rotas. Temos a Rota do Açaí, sendo trabalhada na região Norte, onde dois polos respondem por 80% da produção de açaí do Pará. Temos a Rota do Mel em âmbito nacional, com foco nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste; e a Rota do Cordeiro, com 14 polos espalhados em todo País. Rota da Biodiversidade, onde podemos trabalhar nas regiões Norte e Nordeste com fitoterápicos e a erva mate e os butiazais na região Sul; e a Rota do Peixe, implantada agora no Estado do Tocantins”.

Experiência e sacrifício

Com uma larga experiência de 46 anos de estrada, o pequeno bovinocultor Pedro Damião Severo, de 60 anos, vem sustentando uma média de 35 cabeças de gado, variando entre as matrizes leiteiras e ´as miúdas´, durante todo o período de estiagem. “Com muito sacrifício, hoje o que está segurando mesmo é a produção de leite bovino. Passamos vários anos secos e esse ano ´ainda não fez água nos reservatórios´”, observa o agricultor familiar de Boa Viagem, que vive com a esposa e um filho que o ajuda na atividade produtiva.

“O que eu sinto que poderia melhorar é um convênio do município com o Estado para melhorar o acesso a nossa propriedade”, pontua sobre as dificuldades com a estrada vicinal que o obriga a vender os cerca de 15 litros de leite diários para um único atravessador. “Segundo, (o que poderia melhorar é) a assistência técnica de qualidade que começa, mas nunca tem continuidade”, reclama incluindo entre as dificuldades dos produtores o alto preço dos insumos, o baixo valor de venda do litro de leite e ausência de subsídios do Estado para atividade leiteira.