Paulo Freire: beneficiárias e técnicas embarcam para Recife na próxima semana

27 de junho de 2019 - 16:03

Duas agricultoras, cinco técnicas da Unidade de Gerenciamento e quatro técnicas das entidades que prestam Assessoria Técnica Contínua pelo Projeto Paulo Freire embarcam em direção à Recife na próxima semana. O grupo participará do “Seminário Regional para Formação no Uso das Cadernetas Agroecológicas nos Projetos Apoiados pelo FIDA no Brasil”, que ocorre entre os dias 03 e 05 de julho, no Campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). O evento reúne cerca de 70 pessoas de todos os seis projetos apoiados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola no Brasil e capacita os agricultores familiares para conduzir o uso das cadernetas.

O projeto de implantação das cadernetas é coordenado pelo Semear Internacional, FIDA e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), em parceria com o Centro de Tecnologias Alternativas (CTA) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). “Quem participar deste seminário ocupará uma missão importante aqui no Ceará, que é a de replicar o uso das Cadernetas Agroecológicas em nosso Estado e colaborar com o monitoramento da execução desta ferramenta”, justifica Francisca Maria Rodrigues Sena, Especialista em Raça e Etnia pelo Projeto Paulo Freire.

A programação seguirá com foco na formação sobre o uso das cadernetas, com pontos que vão desde a apresentação do Projeto das Cadernetas Nacional e a Experiência do Grupo de Trabalho de Mulheres da ANA (Articulação Nacional de Agroecologia), à Sistematização e Monitoramento das Cartilhas. Ao final dos três dias serão entregues as cadernetas a serem utilizadas pelas participantes. “Estamos juntas construindo instrumentos que possibilitem conhecer e sistematizar a contribuição econômica, ecológica, social e cultural das mulheres rurais para a economia familiar”, complementa Aline Martins, gerente de Gestão do Conhecimento do Semear Internacional.

Mulheres que Florescem

Na programação do evento, ainda está prevista o lançamento da cartilha “Mulheres que florescem o semiárido nordestino”. A publicação, já disponível para download, traz experiências de mulheres e grupos de mulheres que lutam pelo reconhecimento e valorização do próprio trabalho. As experiências demonstram que é possível desenvolver a agricultura familiar no semiárido nordestino, gerando renda e fazendo com que as experiências dessas mulheres mudem as realidades onde vivem.

A cartilha conta a experiência de Francimária Gomes de Oliveira, de 45 anos. Mais conhecida como Cimara, a agricultora nasceu e cresceu na comunidade de Oiticica, em Tauá, a 331 km de Fortaleza. Ela trabalhou desde os doze anos na roça, com o pai, mas, ao se casar, aos quinze anos, passou a trabalhar com o esposo. Nessa época eles viviam em uma casa de taipa, mantida até hoje, ao lado da casa de alvenaria onde vivem, em que criaram seus filhos. “Pra poder conseguir uma de alvenaria deu trabalho”, conta.

“(Hoje) Eu é que boto mais dinheiro aqui […]. Na comercialização, tudo é feito por mim. O povo vem comprar aqui. As vendas pelo WhatsApp é pras fruteiras, dos mercados, tudo é pelo WhatsApp, minha clientela todinha. O povo sabe que eu não sei ler e manda áudio. Eu digo: ‘manda áudio’”. Atualmente, com apenas uma ida para Tauá a agricultora chega a lucrar R$ 200 por dia, relata.

As cadernetas

A Caderneta Agroecológica é um instrumento elaborado pelo Centro de Tecnologias Alternativas na região de Zona da Mata em Minas Gerais, em diálogo com o Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Por meio da caderneta, as mulheres podem contabilizar o quanto investem e o quanto lucram com a produção agrícola no roçado e em casa. Com os resultados é possível observar o aumento na renda das mulheres, criando autonomia e independência, e fortalecendo o processo de respeito e inclusão das produtoras rurais.

O instrumento foi experimentado pela primeira vez no contexto do Programa de Formação em Feminismo e Agroecologia, em 2013, pela organização não governamental CTA. Depois foi utilizada mais uma vez entre 2013 e 2015 pelo GT Mulheres da ANA a partir de um projeto nacional financiado pela União Européia em todas as regiões do Brasil que teve como eixo central a realização de um Programa de Formação “Feminismo e Agroecologia.”