(Artigo) Transição para agroecologia

27 de setembro de 2019 - 11:09

Confira a seguir o artigo publicado pela historiadora e coordenadora do Projeto Paulo Freire, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), na edição desta quinta-feira (26) do jornal O POVO. 

A humanidade vive impactada pelas mudanças climáticas, a perda de (agro)biodiversidade, a degradação do solo e a má nutrição são os sinais da crise civilizatória que assola o planeta terra. A monocultura é uma prática que artificializa a natureza. É a matriz dos índices alarmantes de insegurança alimentar e má nutrição, em forma de subnutrição, deficiência de micronutrientes (“fome oculta”) e hipernutrição (excesso de peso e obesidade). Os sistemas alimentares se encontram numa situação crítica afetando as populações do campo e da cidade. O conhecimento ecológico é universal e pode ser aplicado, todavia a transição para agroecologia é um desafio que remete a pedagogia relacionada com as tradições e as especificidades de cada local.

A agroecologia é fundamental na construção de uma educação eficiente. Concentra-se nos princípios básicos da ecologia. Promove a diversidade de produção ou pluriatividade e os saberes dos povos e comunidades tradicionais, valoriza às especificidades locais e culturais de cada região. A ignorância ameaça a qualidade de vida, degrada o ambiente onde se prolifera as graves patologias. A natureza é órfã com a extinção dos seres vivos fundamentais ao equilíbrio do ecossistema.

Dúvidas sobre a natureza? Somos o que comemos, o que acreditamos. Diz um ditado popular. Na minha inquietude penso que a colheita forjada na exclusão e no óbito das pessoas, colocando em risco a perpetuação das espécies é o beiral da bestialidade e da desumanização. Fritjof Capra nos adverte sobre a consciência ecológica que também é uma consciência espiritual, por que ela leva a uma reflexão sobre o papel dos humanos no mundo. As tecnologias sociais concebidas ecologicamente são descentralizadoras, desenvolvem capacidades, reduzem os impactos negativos, criam empregos. A conservação e melhor uso dos recursos naturais permitem o aumento de produtividade. A sustentabilidade ambiental precisa da colaboração dos três centros do poder, que são as empresas (técnicas, conexões e mudanças), o governo (arcabouço legal) e a sociedade civil (promove os valores e a mudança de percepção).

Íris Tavares