Outubro Rosa: uma doença que só se enfrenta com fé e afeto

2 de outubro de 2019 - 19:16

Ascom | Texto: André Gurjão - andre.gurjao@sda.ce.gov.br | Arte: Elane Lima

Mesmo com sete anos na bagagem, até hoje é delicado para a agricultora Lúcia Helena de Carvalho, de 55 anos, citar a palavra “câncer”. “Quando senti o nódulo no meu peito, fiquei sem chão. No iníco, pensei que era só tirar e ia ficar boa. Quando levei a mamografia ao médico soube que teria de tirar o seio”, narra os primeiros dias de convivência com a doença após o primeiro exame realizado em Crateús, município localizado a 354 quilômetros de Fortaleza.

A doença que deve registrar uma taxa de incidência de 2.200 novos casos no Ceará somente neste ano, de acordo com os números do Instituto Nacional do Câncer (Inca), é o tema de uma série de reportagens da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) neste mês de outubro. Para além da convivência, o órgão do Governo do Ceará enfatiza a luta contra o preconceito e o testemunho das agricultoras, relatando como o câncer de mama alterou o dia à dia no campo.

No caso de Lúcia Helena, a descoberta foi em setembro de 2011 e, em razão da marcação do exame e do recesso de fim de ano, somente em fevereiro do ano seguinte o exame chegou às mãos do médico. “Depois da quimioterapia é que fui operada. (Primeiro,) Marcaram para o começo de fevereiro e não consegui me operar. Voltei para Nova Russas, fiquei internada e consegui ser operada (somente) em 17 de fevereiro”, relata a saga vivida entre a cidade natal e capital cearense.

O início de tudo

Quando descobriu que o câncer de mama, a doença já se estava no terceiro grau. No estágio, o tumor já está maior e evolui contaminando tecidos e linfonodos próximos. Daí a necessidade de combinar o tratamento com a radioterapia e de introduzir um dreno na região. “Quando terminei as sessões de radioterapia precisei tomar medicação para repor os hormônios e isso durou cinco anos”, continua a trabalhadora rural que também recebeu atendimento psicológico.

“Muitas amigas tinham preconceito: algumas falavam que eu cheirava mal e me olhavam como se fosse uma pessoa suja, marcada”, relata o preconceito que sofreu no interior cearense. “E, isso tudo, por causa do esclarecimento que elas ainda não tinham. Era difícil ouvir falar (do câncer de mama) e esse tipo de coisa (o preconceito) marca a pessoa. Eu sentia na cara delas o e, só mesmo com o tempo, quando elas ouviram falar mais desse problema de saúde é que isso foi mudando”.

Os desafios e o afeto

Ainda hoje as marcas da doença persistem e o dia à dia frenético: plantando na roça, limpando o terreno, fazendo a coivara e cuidando da casa, ficou para trás em nome da própria saúde. “Quem mais me deu apoio foi meu filho, que mora no Rio de Janeiro, e o meu esposo. O sindicato (dos Trabalhadores Rurais de Nova Russas) cuidou muito de mim e, também, me ajudou a receber todos os benefícios”, agradece todas as demonstrações de afeto que recebeu pelo caminho.

“A mensagem que quero deixar para todas as mulheres é que a vida é uma dádiva de Deus. Se (vocês) forem diagnosticadas com o câncer de mama, não tenham medo de se cuidarem ou sintam vergonha de procurar o médico. E, às pessoas mais próximas, não tenham medo de quem está com essa doença, ela não pega. Toda mulher que enfrenta o câncer de mama precisa de amor, carinho e afeto”, deixa seu último recado para esta reportagem.