Mulheres de Reriutaba diversificam produção e geram de renda com cadernetas agroecológicas

1 de setembro de 2020 - 18:31

Texto: Rones Maciel - Imagens: Cealtru

Nosso percurso pelos territórios de atuação do Projeto Paulo Freire por meio da Caderneta Agroecológica. Dessa vez quem nos recebe no seu quintal é a dona Maria Alves de Brito, de 62 anos, moradora na comunidade de Cabaceira, município de Reriutaba. A agricultora é a primeira secretária da Associação dos Moradores de Cabaceira, onde reuniões contam uma grande participa feminina na tomada de decisões.

No quintal agroecológico de dona Maria, encontrarmos uma diversidade de hortaliças, frutas e legumes. Seu quintal está sendo integrado ao sistema de reuso juntamente com a criação de galinhas caipiras. Além de melhorar a qualidade de vida da família, a produção e a tecnologia social do reuso de água trará autonomia e desenvolvimento local. Maria Alves é uma das 144 mulheres que estão fazendo apropriação e uso da Caderneta Agroecológica no Projeto Paulo Freire. No seu quintal produtivo, onde cultiva variedades de hortaliças, legumes e frutas, floresce bem mais que vegetais.

“A caderneta agroecológica mudou o aprendizado de ver o que se produz, mesmo para o consumo. É uma renda que você teria que gastar se não produzisse. Você vai só pegando no quintal, só pegando. Quando você vai anotando, você vai descobrindo que é um dinheiro que você deixou de gastar, economizou durante um mês”, destaca dona Maria Alves.

 

A Associação dos Moradores de Cabaceira, fundada em 2006, contempla 54 famílias por meio do Projeto Paulo Freire, com assessoria técnica contínua e atividades de desenvolvimento produtivo. Estão sendo implementadas 43 unidades de quintais produtivos agroecológicos integrados com a criação de galinha caipira (avicultura), sendo 21 deles mantidos por sistema de reuso de águas cinzas (Tecnologia Social). Tem ainda 11 famílias contempladas com ovinocultura. Somente nestas ações de produtivas serão investidos um valor total de R$ 294.013,09. A comunidade é acompanhada pela assessoria técnica do Instituto Antônio Conselheiro (IAC).

Ainda no município de Reriutaba, mas na comunidade Sombrio, quem nos recebe no seu quintal é a Maria da Glória Rodrigues de Mesquita, 33 anos. Agricultora e doceira, vive com seu companheiro e 03 filhos. Ela é a segunda secretária da diretoria da Associação Comunitária de Sombrio.

Glória tem uma horta onde produz as verduras que consume e vende o excedente. Como não tem feira nas proximidades da comunidade, além de consumir, garantindo uma alimentação saudável para sua família, ela percebeu também que poderia gerar renda, comercializando o excedente. Mas também doa para comunidade. Outro potencial que Glória viu, a partir do seu quintal foi o beneficiamento de algumas frutas, como o mamão, para produção de doces. Além de não desperdiçar, contribui na economia da casa.

Toda essa produção e diversificação de Glória agora está documentada. Diariamente ela anota tudo o que produz, seja consumindo, vendendo ou doando. Tudo na ponta do lápis e na conta no final do mês. Ela é mais uma das mulheres do semiárido cearense que participa dos processos de apropriação e uso da Caderneta Agroecológica no Projeto Paulo Freire.

“Aqui a gente começou (a usar a caderneta) em setembro (2019), e em novembro eu já tinha a galinha pra vender, já fazia doce, e fui passando a anotar, o feijão, os ovos… Hoje, tudo isso está anotado na minha caderneta. E também não preciso ir mais comprar no mercado, até nisso a caderneta me ajudou,” relata dona Glória.

A comunidade de Sombrio tem 23 famílias beneficiadas com Assessoria Técnica Contínua e investimentos em projetos produtivos com atividades de Avicultura (16 famílias) integrada a quintais produtivos e Sistemas de reuso de águas cinzas e ovinos com Sistemas agrosilvopastoril e banco de proteínas, com investimentos no valor total de R$ 127.096,84. A comunidade é acompanhada pela assessoria técnica do Centro de Estudos e Assistência às Lutas do/a Trabalhador/a (Cealtru).

Caderneta Agroecológica

A caderneta agroecológica é um instrumento de registro diário da produção das mulheres, por elas próprias, onde anotam o que produzem, a quantidade, a medida de referência e os valores do produto. No Projeto Paulo Freire, as cadernetas agroecológicas estão presentes em 76 localidades de 20 municípios e, em média, gerou um rendimento mensal de R$ 373 por beneficiária.

Essa ação faz parte do “Projeto de Formação e Disseminação do Uso Consciente das Cadernetas Agroecológicas nos Projetos apoiados pelo FIDA no Brasil”. Uma ação promovida em parceria com o Programa Semear Internacional, CTA/ZM e o GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

A implementação e acompanhamento das Cadernetas Agroecológicas Projeto Paulo Freire é desenvolvido em parceria com sete organizações da sociedade civil: Cáritas Diocesana de Crateús, Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria do Trabalhador (Cetra), Centro de Estudos e Assistência às Lutas do Trabalhador Rural (Cealtru), Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar), Instituto Antônio Conselheiro (IAC), Instituto Flor do Piqui e ONG Cactus.