Cestas agroecológicas são alternativa de consumo saudável, consciente e sustentável

7 de abril de 2021 - 15:55

Texto: André Gurjão | Imagens: André Gurjão e Thainá Duete

Na ativa há sete anos, a Feira na Piragibe Orgânicos oferta cardápio com frutas e verduras da estação. O principal é o contato direto com os produtores rurais e o atendimento humanizado

No Dia Mundial da Saúde, comemorado neste 7 de abril, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário oferece uma dica de alimentação saudável e consumo consciente aos consumidores de Fortaleza. Isso porque, com o isolamento rígido prorrogado até 11 de abril, é preciso redobrar os cuidados com a alimentação e o consumo frequente de produtos com agrotóxicos ao longo da vida pode trazer riscos graves à vida, como o desenvolvimento de câncer e a redução da fecundidade.

Uma alternativa é a compra pela Feira na Piragibe Orgânicos, que oferece a entrega de produtos orgânicos e agroecológicos por meio dos sistemas de delivery ou compra presencial. O espaço funciona no bairro Parquelândia e oferece um cardápio diversificado com 37 produtos que vão de frutas e verduras da diversificação, carnes tipicamente regionais e até mesmo itens de cuidado de higiene bucal e da pele. De quebra, o consumidor estimula o comércio local e a economia do Estado do Ceará.

“Eu era vendedor de biscoito e tive a oportunidade de trabalhar como expositor da Feceaf (Feira Cearense da Agricultura Familiar). Com a contribuição das instituições, criamos a Feira na Piragibe e passamos a contar com um sistema em que os agricultores trazem os produtos e se presta conta das vendas. Hoje, atendemos cerca de 1.600 pessoas pelo Whatsapp e as maiores movimentações acontecem nas terças e sextas-feiras, quando chegam novos produtos”, explica Anderson Bivar.

A logística do negócio funciona com o envio do catálogo de produtos de domingo à domingo pela rede social, sempre pela manhã e à noite. Quando o cliente confirma o pedido à noite, a entrega acontece na manhã seguinte e os pedidos realizados pela manhã são entregues no período da tarde. O pagamento é feito através do PIX, cartão de crédito e débito (Visa, Master e Hiper), transferência bancária ou dinheiro e é cobrado uma taxa de entrega entre R$ 10 e R$ 15, conforme bairro do cliente.

“Essa logística de delivery e drive thru surgiu no período de pandemia do Covid-19. Antes, funcionávamos no Parque de Exposição César Cals e, com o decreto estadual do ano passado, passamos a realizar as entregas nas casas dos consumidores. Nesse período, percebi que os sistemas de delivery e de drive thru não são apenas o futuro, mas um novo mercado que prevalece no presente”, narra o feirante que também não quer perder o cliente que chega na porta de casa.

Os produtos são frutas e verduras da estação e se não tiverem o nome incluído na lista de transmissão enviada pelo Whatsapp não há disponibilidade do alimento. Embora prevaleça o incômodo do consumidor em comprar tudo num canto só, o feirante que já chegou a morar no Estado de Amazonas garante preço abaixo daquele praticado por redes de supermercados para orgânicos e divisão justa dos lucros com os agricultores fornecedores da Feira na Piragibe.

“O diferencial da feira é trabalhar com produtores do nosso Estado. Sempre digo que tive a sorte de ser indicado pelas próprias associações e cooperativas da agricultura familiar e também por servidores da Secretaria, da Ematerce e do próprio Projeto São José. Não vem nada de fora e, se viesse, teria que passar primeiro por organizações da agricultura familiar daqui, com quem mantenho relação de confiança há mais de sete anos”, conclui.

Cardápio de produtos

O cardápio disponibilizado nesta quarta-feira (7/4) oferta a melancia que chega de São Gonçalo do Amarante por R$ 2/kg e o mamão a R$ 3,50/kg. A tangerina e a laranja de São Benedito chegam à mão do consumidor por R$ 6/kg cada, o mesmo preço para o pepino e a batata doce, e o Maracujá é vendido a R$ 7/kg. O cliente pode ainda escolher o limão, custando R$ 6,60/kg; o chuchu é vendido a R$ 6,50/kg e o abacate a R$ 7,30. Por fim, o brócolis é comercializado a R$ 16/kg.

Se o interesse são os cuidados naturais, a Feira na Piragibe oferece produtos artesanais da Alecrim Pimenta Cuidados Naturais. O desodorante cremoso de capim limão custa R$ 17 (40g), o repelente natural de Citronela e Cravo R$ 16 (80 ml) e os sabonetes líquidos de alecrim e aroeira saem por R$ 14 (200 ml). Os kits de argila preta ou verde custam R$ 23, mesmo preço do kit influsão de flores, o escalda pés custa R$ 10 e a vela artesanal pequena R$ 5.

Por fim, a cajuína fornecida pela unidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra em Caucaia vale R$ 8/litro, o coloral é comercializado por R$ 6 (300 g) e o arroz polito sai por R$ 12/kg. A farinha de banana verde Dona Lídia, vindo de Itapajé, custa R$ 8 (250g) e, chegando de Ibaretama, as peças de galinha caipira e pato são vendidas a R$ 35 e R$ 50, respecitivamente, e 500 g de banha de porco chegam à mão do cliente por R$ 15. Os pedidos dependem da disponibilidade do produto.

Produtos orgânicos, agroecológicos e da estação

A diferença entre produtos orgânicos e agroecológicos é bem sutil, embora significativa quando se pensa nas relações de trabalho e até mesmo no futuro das crianças. O primeiro termo se refere à apenas alimentos sem o uso de qualquer agrotóxico, fertilizante sintético ou transgênico e a própria denominação atende à Lei Federal No. 10.831/03. Até a emissão do selo orgânico, o agricultor percorre um longo caminho e a qualidade do produto é atestada pelo governo federal.

Já o termo agroecológico se refere a um modelo de crescimento proposto mundialmente entre os anos 60 e 70 e leva em consideração mudanças profundas na convivência com o meio ambiente e com as diversas etapas de produção. Não existe emissão de selo para atender a categoria, embora o termo se refira a produtos que, além de descartar agrotóxicos, fertilizantes e transgênicos, não utilizam mão de obra escrava e nem permitem o trabalho infantil. O agroecológico é oposto ao agronegócio e tem como base o modelo familiar de produção agrícola.

“Quando falamos em alimentos, exceto orgânicos e agroecológicos, temos uma larga produção vindo da monocultura realizada em larga escala. Esta mesma produção compromete o uso das nossas águas, contamina o ar e exaure o nosso solo. Por isso, compreendemos que este modelo de produção excede tudo aquilo que o nosso planeta fornece gratuitamente e representa um risco para a atual e as futuras gerações”, explica Mari Menezes, psicóloga e proprietária da Alecrim Pimenta.

Para ela, o modelo de consumo deveria estar mais próximo do fluxo do meio ambiente, o que representaria também a ingestão de menos agrotóxicos e alimentos mais saborosos e suculentos dentro de casa. “Consumir orgânicos, agroecológicos e da estação representa fornecer mais nutrientes ao nosso organismo, se posicionar contra o desmatamento e favorecer o pequeno produtor. O mundo nos mostra esta reflexão e, sem ela, dificilmente construiremos uma sociedade mais saudável, justa e sustentável”, ensina.