Projeto São José fortalece juventude Tapuya Kariri com formação em comunicação popular
8 de abril de 2025 - 15:14 #indígenas #projeto são josé #slowfood
Texto: Elane Lima | Fotos: Associação Slow Food
A palavra virou semente na terra fértil da Ibiapaba. Entre os dias 03 e 05 deste mês, a Escola Indígena Francisco Gonçalves de Sousa, localizada na Aldeia Gameleira — território do Povo Tapuya Kariri, em São Benedito — acolheu o Percurso Formativo em Comunicação Popular. A atividade integra o projeto Território e Cultura Alimentar no Ceará, ação realizada no âmbito do Projeto São José, coordenado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) em parceria com a Associação Slow Food do Brasil.
Em uma imersão marcada pelo diálogo entre tradição e tecnologia, cerca de 30 participantes — entre jovens, professores, lideranças e troncos velhos — participaram de uma formação dedicada à comunicação, às etnomídias e ao audiovisual no território Tapuya Kariri. A proposta central foi colocar nas mãos da própria comunidade as ferramentas para narrar suas histórias, preservar seus saberes e fortalecer sua identidade cultural.
A programação reuniu rodas de conversa, práticas de registro audiovisual e momentos de reflexão sobre o papel das mídias na salvaguarda das culturas indígenas. Foram introduzidos conceitos da Comunicação Popular e debatida a importância dos meios de comunicação como instrumentos de resistência e valorização das tradições. A formação também construiu uma ponte entre dois atores fundamentais para a preservação do patrimônio imaterial: os inventariantes culturais e os comunicadores comunitários.
O grupo teve contato com experiências audiovisuais de juventudes indígenas de outras regiões do Brasil, que serviram de inspiração para mapear temas prioritários de comunicação dentro do próprio território. A partir desse ponto, foram planejadas ações de registro e produzida uma linha do tempo com assuntos considerados essenciais para a construção de uma narrativa coletiva.
A experimentação prática incluiu o uso de equipamentos diversos, desde câmeras DSLR até smartphones, microfones e gravadores, com orientações técnicas de captação e produção de conteúdo. Com os recursos em mãos, os jovens foram a campo para entrevistar troncos velhos, registrar receitas tradicionais, memórias, saberes e os alimentos sagrados de seu povo. Em um gesto carregado de significado, os mais velhos também se apropriaram das tecnologias digitais e, pela primeira vez, utilizaram celulares para registrar imagens da própria cultura, reafirmando que a ancestralidade e a inovação podem caminhar lado a lado.
“Essa troca entre gerações nos ensina que comunicação é resistência. Quando o jovem ouve e registra o mais velho, ele carrega consigo uma história inteira, e a projeta para o futuro”, ressaltou Nane Sampaio.
A vivência reforçou a autonomia comunicativa das comunidades e fortaleceu o protagonismo das vozes indígenas, que seguem firmes na missão de contar o próprio território com seus próprios olhos, sons e palavras.
Para o coordenador do Projeto São José, Lafaete Almeida, a iniciativa reforça o compromisso do Governo do Estado com o fortalecimento dos povos indígenas. “A formação realizada na Aldeia Gameleira representa o compromisso do Projeto São José com a valorização das culturas tradicionais e o protagonismo das juventudes. Ver os jovens Tapuya Kariri utilizando ferramentas de comunicação para registrar e preservar seus saberes é um marco importante na construção de políticas públicas sensíveis aos territórios e às identidades originárias”, afirmou Lafaete Almeida.
Ao apoiar a realização do Percurso Formativo em Comunicação Popular junto ao povo Tapuya Kariri, o Projeto São José reafirma seu compromisso com a valorização das culturas tradicionais, com a preservação dos modos de vida ancestrais e com a promoção da soberania alimentar como eixo central do desenvolvimento rural sustentável. A iniciativa também evidencia a importância do protagonismo indígena na construção de políticas públicas que sejam, ao mesmo tempo, mais justas, inclusivas e profundamente conectadas com os saberes e as realidades dos territórios onde essas comunidades vivem e resistem.