Sabor de Inovação: Ceará recebe primeira edição da oficina Slow Food Indica
15 de abril de 2025 - 15:18
Texto e Fotos: Elane Lima - Ascom PSJ
Por onde o alimento nasce, também germinam histórias. E, no Ceará, pela primeira vez, essas histórias ganham nome, rosto e etiqueta.
Nos dias 15 e 16 de abril de 2025, o Ceará recebe a primeira edição da oficina “Slow Food Indica: Comunicação e Valorização de Produtos da Sociobiodiversidade”, promovida pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), por meio do Projeto São José. A iniciativa, marca um novo capítulo na valorização dos saberes e sabores das mulheres, comunidades tradicionais e juventudes rurais do estado.
Mais do que um evento técnico, trata-se de uma ação estratégica de inovação no campo — um convite para que agricultores e agricultoras familiares tornem-se também narradores de seus próprios produtos, territórios e modos de vida.
“Esta é uma ação histórica para o Ceará“, afirma o professor Lafaete Almeida, coordenador do Projeto São José. “Ao trazer o Slow Food Indica para o nosso estado, estamos dando visibilidade ao protagonismo dos agricultores familiares e reafirmando nosso compromisso com um modelo de desenvolvimento rural que respeita as tradições, os territórios e os saberes locais.“
A programação propõe um mergulho em comunicação estratégica, com oficinas voltadas especialmente para jovens e mulheres de diversas regiões do Ceará. O foco da oficina é construir coletivamente narrativas que ampliem o alcance comercial dos produtos da sociobiodiversidade local e enfrentem os desafios da invisibilidade e da informalidade — sem deixar de lado os rituais, os cheiros, os nomes e os rostos por trás de cada alimento.
Uma dos destaques do evento é a “Etiqueta Narrativa”, uma ferramenta desenvolvida pelo movimento Slow Food que vai além do rótulo: ela conta a história. Informa não só o que está no prato, mas como, por quem e com qual cuidado foi cultivado. É a materialização de um alimento bom, limpo e justo, como reza a filosofia que inspira o movimento.
“Sempre produzimos com amor, mas agora vamos aprender a contar a história do nosso produto. Isso muda tudo“, afirma a produtora de mel Maria Laís, do espaco Lavida, do município de Santana do Cariri. “As pessoas vão saber quem somos, como cultivamos e por que o que fazemos tem valor.“
A chegada da oficina ao Ceará representa uma inovação que, ao mesmo tempo em que aponta para o futuro, honra profundamente as raízes e os saberes tradicionais das comunidades rurais do estado. Fruto de uma articulação estratégica entre o Projeto São José, o movimento Slow Food Brasil e o Banco Mundial, a iniciativa consolida uma parceria que une conhecimento técnico, valorização cultural e compromisso com o desenvolvimento rural sustentável, reafirmando que a verdadeira inovação nasce do diálogo entre tradição e transformação.
“A chegada da oficina é mais um passo para a consolidação de uma rede de alimentos bons, limpos e justos” no Ceará, diz Lígia Meneguello, coordenadora da Associação Slow Food do Brasil. “O uso da metodologia das Etiquetas Narrativas para criar uma comunicação que conta histórias afetivas e verdadeiras fortalece a transparência e valoriza a cultura alimentar das comunidades que resistem e reinventam o que comemos todos os dias.“
O evento contou ainda com a participação ativa de técnicos do Projeto São José, estudantes da Universidade Federal do Ceará e Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), criando uma ponte essencial entre a prática e o saber acadêmico. Essa aproximação entre diferentes instituições — governo, universidade e sociedade civil — fortalece o ecossistema de inovação social e amplia os horizontes do desenvolvimento rural. Ao reunir o conhecimento técnico dos profissionais com a vivência dos agricultores e a curiosidade investigativa dos universitários, a oficina tornou-se um espaço fértil de trocas, aprendizados e cocriação, onde cada experiência somou para ressignificar o valor dos produtos da sociobiodiversidade do estado.
“Momentos como esses são fundamentais para a formação dos nossos estudantes e para o fortalecimento da universidade como agente de transformação social. A aproximação com iniciativas como o Projeto São José permite que o conhecimento acadêmico dialogue com a realidade do campo, enriquecendo tanto a pesquisa quanto a prática. É nesse encontro entre teoria e experiência que nascem as inovações que realmente transformam territórios”, afirmou Aiala Amorim, Professora do Departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Federal do Ceará (DEINTER/UFC) e líder do Núcleo de Pesquisa em Sociobiodiversidade, Soberania e Segurança Alimentar (NUPESSA).
Com essa iniciativa, o Projeto São José reforça seu compromisso com a inovação social no campo, dando forma e voz à riqueza invisibilizada da agricultura familiar. A expectativa é de que a oficina sirva de semente para novas redes de colaboração, incentive a organização coletiva e abra caminhos para que o alimento cearense, em sua forma mais autêntica, ganhe o mundo — com nome, memória e dignidade.