Apicultura: Ceará caminha em direção à primeira colocação do Nordeste
13 de maio de 2019 - 18:12
Ascom |
André Gurjão - andre.gurjao81@gmail.com
Com um investimento já realizado de quase R$ 20 milhões, o Governo do Ceará e o Banco do Nordeste caminham em direção à estruturação da cadeia produtiva do mel em polos de desenvolvimento. A proposta, aprovada por apicultores dos sertões Central, dos Inhamuns e Crateús, é fazer com que o Estado retome o título de maior produtor de mel do Nordeste e, de quebra, galgar espaços nos mercados interno e externo. A profissionalização e a diversificação dos subprodutos da apicultura também estão na pauta.
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“A Rota do Mel é uma coordenação de atores públicos e setoriais com a qual conseguimos traçar objetivos comuns. O nosso foco é fazer com que as instituições consigam cooperar e haja uma complementariedade das ações em torno da apicultura”, esclarece Joaquim Carneiro. Atualmente, explica o coordenador de Projetos Integrados do Ministério do Desenvolvimento Regional, o “Rotas da Integração”, a iniciativa funciona há menos de um ano em âmbito nacional, com foco nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste.
Com a entrega dos projetos produtivos pelos projetos São José e Paulo Freire, além das ações em parceria com órgãos da administração pública federal, a estimativa é que ocorra um salto produtivo de 22% no primeiro ano. O cálculo é simples: com a entrega de 29.156 colmeias e uma média de produção de 25 kg a cada 50 colmeias entregues, a atividade tende a ser impulsionada em direção ao sucesso. “Isso, claro, depende do interesse dos apicultores em buscar capacitação para produzir cada vez mais e melhor”, pondera Márcio Peixoto, coordenador da SDA.
Nas engrenagens da produção
Caso se comprove, e considerando apenas as vendas para o mercado interno, a receita bruta da atividade no Estado receberia um acréscimo de mais de R$ 3,13 milhões já no próximo ano. A questão é que, diferentemente da agricultura de sequeiro, os apicultores costumam reinvestir os lucros na própria atividade. “Há um caso aqui na nossa comunidade, em que um dos produtores quis pagar o empréstimo que tomou já no ano seguinte”, relata Algaci Abreu, tesoureiro da Associação Taboense de Apicultura, no município de Monsenhor Tabosa.
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“Em 2018, contratamos, via Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), 829 operacões apenas nos 19 municípios que compõem a Rota do Mel, totalizando negócios no valor de R$5,8 milhões. Todos eles se encontram no semiárido nordestino e são considerados prioritários para a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR)”, informa Paulo Dídimo, gerente do Programa de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste. “A expectativa é aumentar esse valor em função do Programa Rotas do Mel, em parceria com a SDA e o Ministério do Desenvolvimento Regional”, pontua.
Para atingir o intento, faz-se necessário um maior nível de organização das associações comunitárias e um maior empenho dos produtores rurais no cuidado com as colmeias. O coordenador de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas da Pecuária orienta, por exemplo, a necessidade que os apicultores realizem o manejo a cada 15 e 30 dias, conforme o período do ano. “(Além disso) Se não houver organização suficiente, através dos entrepostos, o produtor acaba não barganhando um preço melhor no mercado”, acrescenta.
Mercado em ascensão
Atualmente, o IBGE garante a primeira colocação nacional em produção de mel ao Estado do Rio Grande do Sul, seguido pelo Paraná, Minas Gerais e Piauí. Com uma produção anual de 1,77 mil toneladas de mel em 2017, o Ceará se encontra na terceira colocação e 2,62 toneladas atrás do estado vizinho. “Em 2014, de acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal, o Estado do Piauí mais que dobrou a produção de mel e nos ultrapassou após dois anos consecutivos”, reconhece o secretário do Desenvolvimento Agrário, De Assis Diniz.
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Entretanto, observa o secretário, parte do resultado se deve ao fato de que parte da produção apícola do Estado atravessa a fronteira para atender o entreposto da Casa Ápis, no Piauí. “Assim como acontece em relação ao Rio Grande do Norte, que entrega parte da produção a um entreposto localizado em Limoeiro do Norte”, pontua. Pelos números da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), o mel de abelha é o 14º produto de exportação e rendeu ao Estado U$S 4.620.383 no ano passado.
Biodiversidade é o grande negócio
Para alcançar o propósito, a primeira medida é garantir a preservação do meio ambiente. Ao deter o privilégio de possuir uma extensa variedade de pasto apícola, formada por plantas produtoras de néctar, o Estado estimula a biodiversidade distribuindo mudas de essências florestais nativas, exóticas e frutíferas. Somente na última edição do Programa Hora de Plantar, conforme dados da SDA, distribuiu 170 mil mudas de essências florestais nativas, exóticas e frutíferas e 400 mil mudas de cajueiro anão precoce.
O programa subsidiado, com recursos do Fundo de Combate à Pobreza Rural (Fecop), assegura o pagamento da contrapartida em até 4 anos, em caso de mudas frutíferas. “Essa grande variedade do pasto apícola nos favorece. Temos aqui a Aroeira, com sua florada na época de agosto e um mel diversificado, que já gera uma grande procura dos mercados do Sul e do Sudeste. Então, podemos compreender que é uma região riquíssima, tanto para o mel, quanto para o própolis, para geleia ou para cera (de abelha)”, comenta o representante da Federação dos Apicultores do Ceará, Irineu Fonseca.
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“O fornecimento de mudas de cajueiro data da 20ª edição do Hora de Plantar, com a adoção de mudas nativas e exóticas da 28ª edição do Hora de Plantar e mudas frutíferas da 31ª edição”, informa Neyara Araújo, coordenadora do programa que caminha para a sua 33ª edição anual. “Nesse período, um dos principais indicadores a serem destacados é o crescimento das demandas cadastradas pela Ematerce. (Entre 2017 e 2019) Os pedidos por mudas de Aroeira, por exemplo, mais que quadruplicaram: passando de um índice de 283,16 para 1.173,6 e os mogno quase triplicaram (de 349,47 para 1.0123,23)”, cita.
Mas, afinal, quando começa?
Com a delimitação do comitê gestor, a realização de um planejamento estratégico e a priorização de oito linhas de ação, cinco projetos orçamentários e até três não-orçamentários, em especial os de maior relevância para a cadeia produtiva nos territórios dos Sertões dos Inhamuns, Crateús e Central, fica mais fácil a Rota do Mel andar com os próprios pés. “Precisamos priorizar o que de fato trará resultados efetivos para o desenvolvimento produtivo: fomentando a cooperação entre parceiros que ainda não se somaram ao processo e fortalecendo as parcerias importantes, como a SDA, o BNB e o Sebrae”, explicita.
Alguns dos indicadores a serem observados, ainda segundo o coordenador de Projetos Integrados do MDR, é se os apicultores vivenciam problemas com a flora apícola ou com agrotóxicos. “No Nordeste, temos o polo do mel de jandaira. Lá (no Rio Grande do Norte) eles já possuem carteira de projetos priorizados, formaram grupos menores e estão na fase de escrever o Canvas (quadro de gerenciamento de ações). Então, a próxima etapa já é a execução desses projetos”, cita sobre a implantação Rota do Mel potiguar, que conta com “as importantes parcerias da Ufersa e do Sebrae”.

No Sudeste e Sul, a situação dos projetos é ainda mais avançada. “No norte de Minas Gerais tivemos grandes avanços: o pólo foi reconhecido como APL (Arranjo Produtivo Local) pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (hoje, Ministério da Economia) e pelo governo estadual e foi concluído um entreposto na região de Bocaiúva”. “(Antes) Os apicultores precisavam enviar o produto deles para uma casa de mel sifada localizada a 800 km de distância. Ou seja, o mel dessa região precisava viajar 1.600km para ser envasado, retornar com o SIF (número do Serviço de Inspeção Federal) e, só então, ser comercializado no mercado nacional e internacional”, revela.
“No Rio Grande do Sul estamos trabalhando para concluir um entreposto, que vai fazer toda a diferença. Hoje, os apicultores do pampa gaúcho vendem a produção para outros entrepostos: que acabam envasando, exportando e ficando com boa parte do lucro do negócio. Então, a partir do momento que este entreposto passa a ter a capacidade de exportar, ele elimina o atravessador e pode acessar lucros e reinvesti-los na cadeia. Inclusive, pagando melhor os apicultores, que podem procurar uma profissionalização e melhorar a qualidade da produção”, conclui Joaquim Carneiro.