Saúde mental merece cuidado redobrado em meio à prorrogação do isolamento social

26 de julho de 2020 - 16:42

Texto: André Gurjão

Com a prorrogação do isolamento social, cresce a preocupação com a saúde mental das famílias cearenses. Mesmo em estágios diferentes da retomada responsável da economia, ainda é preciso manter o distanciamento social e cuidados para barrar a proliferação do novo coronavírus. O alerta atinge mais de 8,83 milhões de pessoas no Estado de uma forma diferente, embora os cuidados com familiares, amigos e até com quem não se conhece muito bem permaneça o mesmo.

O espaço físico de convivência da família nas comunidades rurais, por exemplo, é maior do que aquele nos grandes centros urbanos. A disponibilidade de leitos de média e grande complexibilidade e de profissionais da saúde, não. Por isso, quem vive nos mais distantes rincões do Estado precisa se cuidar quando se desloca até as sedes municipais. As máscaras de proteção, o evitar o toque com as mãos, o uso de álcool em gel e a higiene pessoal são extensões desse cuidado.

“Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Não apenas a mera ausência de uma doença ou enfermidade”, parafraseia a Organização Mundial de Saúde a psicóloga clínica Luana Mourão. “Neste momento, em que muitos idosos não podem visitar as feiras públicas, onde muitas vezes acontece uma das poucas formas de interação social que eles possuem, e as crianças e jovens não frequentam a escola, esse bem-estar se encontra um pouco comprometido”.

Tudo pensando no bem-estar coletivo. Ainda assim, lembra a mestra em Psicologia e Educação, o isolamento social atinge de uma forma particurlar cada indivíduo. Casos passados de álcoolismo, ansiedade, depressão, suicídio e de violência doméstica precisam de investigação para saber como cada unidade familiar reage ao isolamento social e construir mecanismos de compensação emocional. “A pandemia pode, inclusive, ser um momento de reciclagem do próprio lar”, sugere a psicóloga.

Sentindo na própria pele

O jovem Hélio Pereira, da comunidade Cachoeira, em Pires Ferreira, lembra que uma das limitações do combate à Covid-19 no interior é a compreensão dos diferentes estágios da retomada econômica. “A população segue muito as recomendações da capital. Então, uma das nossas preocupações é como reagiremos quando o pico da epidemia chegar, porque sabemos que ainda não chegou até nós”, alerta Hélio, que também é professor de Matemática.

“Quando se fala em isolamento, o que se imagina é estarmos trancados dentro de casa, mas aqui temos uma visão um pouco de diferente. Vivo numa comunidade pequena entre duas maiores, onde talvez existam entre dez e vinte casas, todos praticamente de uma mesma família. Se eu e o meu vizinho cumprimos o isolamento, a interação social acaba acontecendo”. As principais alterações, segundo o relato, são as interrupções das aulas presenciais, a não-realização de partidas de futebol e evitar as saídas até as sedes municipais.

Outros resultados são um maior uso dos jogos on-line; o crescimento dos negócios locais, com a aquisição de maquinetas de débito e crédito; e um maior envolvimento dos pais na educação dos filhos. “Isso era para ter acontecido há muito mais tempo, não havia a necessidade dessa pandemia”, observa o educador. “Os idosos também estão utilizando mais a internet para passar pelo isolamento”, conclui citando exemplo da mãe, de 64 anos, que se reúne virtualmente com um grupo católico.

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