Paulo Freire promove debate sobre educação contextualizada e LBTQIA+ fobia
26 de julho de 2020 - 20:43
Texto: André Gurjão | Imagem: Marcos Vieira
Ainda falta muito para que um tema complexo como a diversidade seja tratado com leveza e naturalidade no campo. “A juventude LGBTQIA+ não está invibilizada por uma dificuldade de colocar a cara para fora. O que falta é um espaço de convivência para que essa juventude possa expor, por exemplo, a própria arte. E sabemos que o nosso público tem muito talento e gosta muito de jogar para fora todo esse talento”, opina Antonny Lucas, que é um dos jovens beneficiários do Projeto Paulo Freire.
“Outro dia, um amigo do meu irmão estava reclamando que, nessa questão da quarentena, não podia nem ir na casa da namorada na comunidade vizinha. E eu pensei: ´agora, a galera está refletindo que não pode andar de mãos dadas com a namorada, ou tomar um sorvete na pracinha´. A comunidade LBTQIA+ está assim há muito tempo, porque não pode demonstrar afeto em público. Isso porque o campo ainda é construído para ser um lugar masculinizado”, observa o jovem rural.
“Ainda não viramos o jogo. Espero que as pessoas possam refletir como é horrível não é poder andar de mãos dadas num lugar onde você nasceu, onde possui pertencimento”, acrescenta o também é vice-presidente da União Estadual dos Estudantes. Segundo ele, a educação tradicional e o associativismo ainda pecam pela falta de ressignificação dos espaços de debate público. “Agroecologia é espaço para falar de produção sustentável, mas também da diversidade”, cobra.
“O Paulo Freire dá contribuições essenciais, no combate ao machismo, ao racismo e a LGBT fobia, e é um caminho sem volta. O projeto está sendo muito assertivo, há pessoas que sofriam no campo e começam a sentir uma melhora a partir de uma nova visão social”, elogia o jovem da comunidade Barreiras, no município de Tauá. Para ele, a educação contextualizada pode contribuir na mudança de consciências e conseguir o campo um lugar mais aconchegante para todos.
Educação contextualizada
A ex-aluna da Escola Família Agrícola Chico Antônio Bié, em Tianguá, Gerlene Silva, também aponta outros desafios das juventudes na educação levada até as comunidades rurais. “Eu, como jovem, escutava sempre: ´menina, tu vai viver no campo feito os teus pais?!´. E, na EFA, passei escutar que nós jovens iríamos passar a estudar o campo para trabalhar no campo. Isso abre as nossas mentes”, narra a agropecuarista da comunidade Córrego de Baixo, em Senador Pompeu.
“A Educação Contextualizada é uma metodologia que traz a nossa vida para o chão da escola. Por meio de princípios, valoriza a realidade do campo, a cultura e a agricultura. Colabora para que a juventude compreenda a beleza do seu lugar e a importância de transformar a realidade, fazendo com que o êxodo rural não seja única saída”, define. A assessoria técnica do Projeto Paulo Freire prestada através do Cetra, segundo Gerlene, passou a ser uma inspiração.
“Sempre pensei que o campo era melhor que a cidade e fui contra o que a minha família queria para mim. Quando me formei, decidi ficar no interior e o Projeto Paulo Freire fortaleceu o meu desejo, fazendo com que me tornasse vice-presidente da Associação dos Criadores de Peixe do Sítio Triunfo e me oferecendo a primeira oportunidade de emprego, através da instituição que presta assessoria técnica na minha comunidade”, acrescenta o engenheiro florestal e técnico do Instituto Cactus.
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