SDA fortalece o protagonismo das mulheres através do Projeto Paulo Freire

1 de março de 2019 - 15:24 # # # #

Ascom | Texto: André Gurjão - andre.gurjao@sda.ce.gov.br | Rones Maciel - rones .maciel@sda.ce.gov.br | Fotos: Marcos Vieira - marcos.vieira@sda.ce.gov.br

Dando início ao Mês da Mulher, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) inicia o 1º de março trazendo um balanço das ações desenvolvidas pelo Projeto Paulo Freire (PPF). Para além do destaque especial para “Mulheres do Campo”, a Secretaria e o PPF, em parceria com as entidades prestadoras de Assistência Técnica Contínua, realizam a campanha “Mulheres do Semiárido: Semeando Direitos em Primeiro Lugar”, que divulga toda semana reportagens temáticas com beneficiárias do programa. A campanha é uma continuidade da exposição fotográfica realizada no ano passado.

“O mês de março é um momento para refletirmos a presença e a condição das mulheres na sociedade brasileira. A nossa luta é em torno da busca da isonomia de oportunidades entre os gêneros e pela valorização da importância das mulheres. Portanto, o nosso papel é não só referendar, como também saudar as lutas pelos direitos das mulheres e trabalharmos juntos em busca de uma sociedade mais justa e mais humana”, enfatiza o secretário do Desenvolvimento Agrário, De Assis Diniz.

A ação visa o empoderamento das mulheres em relação aos próprios direitos, desenvolve o protagonismo feminino no espaço onde vivem e incentiva a autonomia econômica como ferramenta de superação da ainda tão frequente desigualdade entre os gêneros. Além da implantação de atividades produtivas, as beneficiárias participam de seminários, oficinas, intercâmbios e são estimuladas a participarem ativamente das associações comunitárias e sindicatos rurais, dentre outras formas de organização social.

Área de atuação

Hoje, o Paulo Freire atua junto a 23.570 famílias ofertando assessoria técnica contínua e financiando o desenvolvimento de atividades produtivas. Do público total, 60,44 % são mulheres, enquanto, no recorte entre os participantes que recebem o apoio financeiro para executar projetos produtivos, as mulheres correspondem a 70,64 %. O maior número delas tomaram coletivamente a decisão de receberem o incentivo  à atividade da avicultura (46%), 22% em reuso d´água de cinzas domiciliares, 17% em quintais produtivos, 16% suinocultura, 13% em ovinocaprinocultura, 12% com biodigestores, dentre outras atividades como o artesanato, a pesca e o desenvolvimento de outras tecnologias sociais.

“A criação de animais domésticos no semiárido brasileiro, em especial a atividade da avicultura, faz parte de um imaginário que dialoga diretamente com o ambiente laboral das mulheres”, analisa a coordenadora do Projeto Paulo Freire, Íris Tavares. “O quintal, ou ´terreiro da casa´, é o universo em que se materializa um conjunto de práticas que envolvem diretamente o cuidado, a qualidade e o interesse das mulheres no que pode significar maior rendimento econômico para a família”.

Nesse mesmo sentido, a coordenadora observa que a agroecologia implantada pelo Paulo Freire “reconhece nas mulheres um ser carregado de saberes e significados que expressam o rompimento das estruturas arcaicas”. “O gênero é preponderante na construção e no reconhecimento dos saberes, das vivências e da identidade. O caminho da agroecologia na agricultura familiar nos ensina que avançamos mais quando nos reconhecemos de mãos dadas, mentes e corações, praticando o desenvolvimento sustentável e solidário”, conclui.

Convivência com o semiárido

A partir da prestação de assessoria técnica e de momentos formativos, as mulheres atendidas pelo programa tem acessado de tecnologias de convivência com o semiárido e ampliado o conhecimento sobre técnicas agroecológicas. “O acesso às tecnologias sociais e os novos aprendizados contribuem para estimular a fala públicas das mulheres e empoderá-las, bem como melhorar as condições de vidas de suas famílias e recuperar e preservar o bioma caatinga”, justifica Francisca Sena, especialista em Gênero Raça e Etnia do projeto.

Além de compartilharem entre si os aprendizados, elas são estimuladas a participarem das associações, sindicatos rurais, além de criarem ou rearticularem grupos de mulheres. “É importante reconhecer que os direitos das mulheres são fruto de lutas dos movimentos feministas e dos movimentos de mulheres. Uma das expressões dessas lutas é a Marcha das Margaridas, que neste ano chega a sua sexta edição”, comenta a técnica. Atualmente, 430 mulheres atendidas pelo Paulo Freire atuam em associações comunitárias como presidenta, tesoureira ou secretária.

Violência contra a mulher

Uma dura realidade que ainda marca a vida das mulheres do campo é a violência. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, contratado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que mais de 500 mulheres são agredidas a cada hora. Somente entre mulheres com idade acima de 16 anos, 16 milhões já sofreram algum tipo de violência: 3% ao se divertir num bar, 8% no trabalho, 8% na internet, 29% na rua e, o mais impressionante, 42% dentro da própria casa.

Uma peculiaridade do ambiente rural é que a maioria das mulheres não possuem acesso a rede de atendimento pública: seja pela longa distância de suas casas, pela desinformação, ou mesmo por não identificar as situações que enfrentam no dia-a-dia. Diante desses casos, as equipes técnicas recorrem aos centros de referência, casas de abrigo, casa da Mulher Brasileira, Conselho de Direitos das Mulheres e juizados especiais no Estado do Ceará solicitando o atendimento às vítimas de violência tenham atendimento psicológico e social.

“Não é só porque sou mulher que tenho que ser desvalorizada. A mulher tem o direito de ser quem ela quer, fazer o que quiser, vestir o que quiser e andar onde quiser sem ser desvalorizada. Principalmente, por ela mesma, porque de tanto a sociedade pisar na mulher, ela mesma passa a ter preconceito contra si mesma”, conclui Thiara de Souza, jovem agricultora da comunidade Santa Luzia, em Sobral.

Imagens: Marcos Vieira